23 de outubro de 2009

Zoodrófila

“Eu sou a mosca que pousou em sua sopa, eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar”

Olá! Meu nome é Raul, Ra ul. Estou aqui pra contar uma história:

A vida não anda nada fácil pra nós moscas; depois que inventaram o inseticida de ação prolongada então, aí é que a coisa ficou feia mesmo. Eu sou cantor. I’m singing in the rain ou sem chuva mesmo, mas a verdade é que cantar por aí não está me rendendo um bom dinheiro, então, resolvi virar animador de velório.

No começo tudo ia bem. Todos curtiam meu repertório, inclusive o morto. A cantarola, que todo mundo ouvia sem saber de onde vinha, cuidava de manter o mistério. Até que um dia morreu um espírita kardecista desses flexíveis, que compactuam com outras vertentes religiosas, e uma grande amiga dele, mãe de santo, apareceu para o adeus final. E os dois estabeleceram um diálogo post mortem; por vias telepáticas obviamente.

- Salve Xico!
- Salve Mãe Preta.
- De onde vem essa cantoria?
- Sei não mainha, até agora não descobri quem é esse Frank Sinatra de velório.
- Deixa eu ver se consigo alguma coisa.

Nesse momento a véia resolveu “incorporar” uma tal de pombagira. Logo pensei: isso vai dar merda. Voa daqui, voa dali, olhos penetrantes, bico flamejante. Opa! Fui localizado. Decolei da rosa vermelha da coroa enviada “Com Sincero Pesar – Da Família Pantera” e fui aterrissar nas ventas do falecido. De repente um vulto, bater de asas. Jesus Cristinho! Me salva. A colombina me achou. E agora, o que faço? Tarde demais. A gira me comeu.


[Marcos RoMa]

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