8 de outubro de 2009

Acerte o bicho

Boa noite. Estamos começando mais um “Acerte o Bicho”. Neste programa, nós damos algumas dicas, algumas informações sobre um animalzinho escondido. E quem acerta o nome ganha um prêmio-surpresa, que só será revelado no final.

Vamos lá, então? O bichinho desta noite é bem conhecido, apesar de ser uma espécie recente na sauna tupiniquim. O macho desse animal tem uma tonelada de músculos e um vocabulário riquíssimo e eclético, formado por palavras que vão desde neologismos de baixo calão até arcaísmos que remontam à Idade da Pedra, como o grito de guerra “Uhu”. No gênero feminino, apresenta-se no formato curvilíneo e oxigenado e veste calcinhas do tamanho do PIB da Tanzânia, que mal conseguem proteger seu monte Kilimanjaro.

Esse animal é bem safadinho e adora se esconder debaixo do cobertor para acasalar. De hábito noturno, é visto diariamente em uma jaula quadrada ligada à corrente elétrica, durante o horário nobre. Está sempre malhando. Às vezes, quando se sente muito bem disposto, consegue simultaneamente malhar e falar besteira (esta última tarefa, diga-se de passagem, ele realiza com perfeição).

Alimenta-se, entre uma bebida e outra, de fama e sonhos de grandeza. Algumas espécies sonham em ser estrelas da TV. Outras querem apenas ganhar um milhão e desaparecer (para nossa felicidade). Mas a maioria acaba mesmo é sem nada, inclusive sem roupa, e pode ser vista por aí, pendurada nas paredes das melhores borracharias.

Apesar de ter uma vida útil bastante curta, esse animal está se proliferando pelo Brasil e pelo mundo, e hoje já virou uma praga. Infelizmente esse problema não tem recebido atenção do Ministério do Meio Ambiente, que disse estar mais preocupado com um tipo de perereca que está inviabilizando uma obra do PAC.

Então, já adivinhou de quem estamos falando? Hoje foi fácil, né. Apesar de ninguém querer admitir, todo mundo conhece esse animal. É o participante de reality show! Isso mesmo! E o prêmio desta noite é... uma dúzia de ovos podres! Porque o nome do programa é “Acerte o Bicho”! Se for bem no meio da testa, melhor.

[Eduardo Sigrist]

4 comentários:

  1. Ritmo, é ritmo de festa! Como sempre senhor Sigrist, acertaste o alvo.
    Mas e os desfiles de calcinhas?
    Tiago

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  2. oi, Eduardo.
    ficou mais enxuto e compreensível.
    aliás, essa, acho, é uma possível fragilidade do conto: quando chega ao final, no último parágrafo, já sabemos do q se trata e aí não há mais surpresa, nem revelação efetiva. o clímax não acontece.
    o prêmio de ovos podres ir para quem possivelmente adivinhe tbém me pareceu sem força, mesmo q seja para arremessar nos participantes do reality show.
    vc poderia desconstruir mais o conto, tentar criar mais impacto. ou simplesmente não revelar o q prometera no início. ou não prometer nada no início...
    bem... são considerações...
    diga lá se as achou relevante ou não?
    abraço,

    edson cruz

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  3. Realmente, Edson, você tem razão. Agradeço suas observações. Como conto, não tem força nenhuma. Nem há conflito, e a revelação do final já é muito óbvia desde o começo. Na verdade é um texto meio sem sentido de existir, pois não pretende contar uma história, poetizar ou filosofar.
    O objetivo era só apresentar uma besta moderna, mas sem muita preocupação formal e sem parecer verbete de enciclopédia. Eu quis fugir de um narrador tradicional e de uma descrição linear. Só que minha escolha foi por um caminho fácil demais e meio infantil.
    Em todo caso, acho que vou deixar assim. Para consertar o texto, só fazendo outro, pois ele começa torto e não se endireita pelo caminho.

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  4. Ah, mais uma coisa. Eu gosto de textos humorísticos e tentei até fazer um. Mas acho que tenho que aprender muito. Na maioria das vezes, e acho que isso se encaixa no meu texto, o humor é usado apenas para mascarar a falta de estilo ou, então, de profundidade (ou até para se esconder da terrível constatação de que não se sabe o que falar sobre certo assunto).
    É por isso que há poucos grandes escritores de humor. É preciso ser engraçado sem ser banal. E isso é difícil pra caramba.

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