13 de outubro de 2009

Tarô dos orixás

Tarô dos orixás

Casei-me com um dragão. Escamas reluzentes, olhar afiado, cauda poderosa. Asas pra me levar pra onde eu quisesse. E aquele fogo. Quem resistiria? Mulher alguma resistiria. Eu não resisti.
Na maior parte do dia ficávamos na caverna. Ninguém entrava. A entrada propositadamente chamuscada mantinha os curiosos à distância. Os tesouros reunidos no interior do covil, acumulavam-se aos meus pés. À noite, ele saía. Sobrevoava aldeias calcinando lavouras e choupanas .
Meu pai, o ferreiro, forjava em segredo uma espada para vingar tanta destruição. Já minha mãe, sonhava em voar um dia nas asas de um dragão como o meu.
Diz o tarô que dragões adoram a liberdade. O meu dragão não era diferente. Começou a se demorar nas suas saídas noturnas e quando perguntei o motivo, bufou e soprou seu fogo sobre mim. Tentei fugir, mas quem foge de um dragão? Mulher alguma foge de um dragão. Sucumbi.
Numa manhã, enquanto ele dormia, deixei meu pai entrar. Foi então que soube da espada. O golpe foi certeiro. O sangue do meu dragão escorreu azul até minhas havaianas. Chorei como nunca abraçada àquela cabeça de réptil crescido. O ferreiro foi levado pela polícia. Estava algemado, mas era aclamado como herói: Ogun, Ogun!
E eu? O que faria agora? Talvez voltasse a ler tarô para os turistas na areia.

Deborah Panachão

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