27 de fevereiro de 2009

FIM DE MORTE

Toda informação interessa ao poema
porque nele a gente faz ritmo dela,
até no necrológico, anunciando
morte de Fulano ou de teu irmão.
Para você ter uma idéia,
a morte ritmada
parece uma águia em extinção.

[Poema de Celso Gutfreind, do livro Trechos.]
Postado por Laís Chaffe.

Verso e Prosa

"O ritmo não é apenas o elemento mais antigo e permanente da linguagem, como também não é difícil que seja anterior à própria fala. Em certo sentido, pode-se dizer que a linguagem nasce do ritmo ou, pelo menos, que todo ritmo implica ou prefigura uma linguagem. Assim, todas as expressões verbais são ritmo, sem exlusão das formas mais abstratas ou didáticas da prosa. Como então distinguir prosa e poema? Deste modo: o ritmo se dá espontaneamente em toda forma verbal, mas só no poema se manifesta plenamente. Sem ritmo não há poema; só com ritmo não há prosa. O ritmo é condição do poema, ao passo que é inessencial para a prosa. Pela violência da razão as palavras se desprendem do ritmo; essa violência racional sustenta a prosa, impedindo-a de cair na corrente da fala onde não vigoram as leis do discurso e sim as de atração e repulsa. Mas esse desenraizamnto nunca é total porque, do contrário, a linguagem se extinguiria. E com ela o próprio pensamento. A linguagem, por inclinação natural, tende a ser ritmo. Como se obedecessem a uma misteriosa lei de gravidade, as palavras retornam espontaneamente à poesia."

[Octavio Paz no livro O Arco e a Lira, em tradução de Olga Savary - postado por Edson Cruz]

7 de fevereiro de 2009

(mesmo dia)

Tire o papel lá de trás e veja
o que você é. Nem continuação haverá
da sua morte. O sofrimento não erra.
Erra sua vaidade, erra sua
ambição, o sol queima e não deixa
fumaça.
Mexa na consciência, beije
a mosca viva se puder. Veja se consegue
deitar-se de lado (como você faz todas
as noites) na sua essa.

As opções humanas são parentes
e, portanto, obedecem o metro linear.
Ninguém mostra a alma abrindo a camisa.
Vivemos a sentir o que não há.


[Poema do livro um lugar para os dias, de c. ronald, Benúncia Editora, 2008]

6 de fevereiro de 2009

C. RONALD para alguém:

"Literatura não é isso que você pensa estar fazendo. Você prima na simpatia da abordagem porque quer ser alguém que escreve.
O nosso País não tem grande literatura porque qualquer um que escreve pensa que por escrever é escritor. Escritor não é quem escreve. Escritor é quem vem para mudar o sentido da escrita antes de dizer o que quer.
O escritor é a vontade da frase, é o fim da palavra sem idéias, é a moral do sentido."

São Paulo, 22 de setembro de 2007.


[Introdução ao livro de c. ronald, um lugar para os dias, Benúncia Editora, 2008, que acabo de receber e já gostei.] Edson Cruz