9 de fevereiro de 2013

Espera - Anna Amorim














a espera estragou
desejo do fruto
dentes  ferem a maça
sem sentir o sabor

Anna Amorim, 03/02/2013

24 de janeiro de 2013

HAICAIS - Exercícios



Por Bruno Bachy (Bobby baq)

4 de dezembro de 2012

Prometheus - Anna Amorim


não há espaço
fora daqui!
céu constante
incapaz
mudar vida
sorriso irônico
debocha, do meu eu
restos
da fala,
mudez vivo
fora daqui
lugar nenhum deve haver
alguma paz
possível
amor desde sempre
lenda
existência
impossível de habitar
quero lugar
nenhum
descansar
suspiro
último
desejo
DEIXEM PAZ!

28 de novembro de 2012

23 de novembro de 2012

Kairós - Anna Amorim




O tempo não existe.

Existem corpos presentes, almas ausentes
Ânsia e medo de encontros.

Corpo a perecer no tempo
desvaneceres d´alma.

Minutos-hora
Contados, acumulados, presos no relógio.

Números nomeados.
Tentativa vã de dominar.

O que não existe, lento nos desconstrói.

27/10/2012

16 de novembro de 2012

só - Dante Felgueiras



bicho sem dono,
absorto num sono
de asfalto,
largado no mundo
                                 cão
sonha
sonho de bicho:
tomba, vira, re-
vira a lata
do lixo

desperto, morde,
mas não ladra.
não pensa
que é gente.
                                 só
sente


(poema para o exercício "Bestiário")

Soneto Laico - Dante Felgueiras


Na quase Consolação, fim da Augusta,
Mulher da vida, que vive sem medo,
Para quem todo engano não é ledo,
O desengano é a primeira busca.

Moça cultiva coragem robusta,
Labuta até tarde, desperta cedo,
De toda família mantém segredo,
Sozinha percebe o quanto lhe custa.

Certa noite chega um homem de carro.
De frente pra igreja, era a maior tara.
Recebe o que pede, mas tira sarro:

- Querida, pagar aqui atrai praga.
Ela respira, ciente de quão caro,
E diz: - Se aqui se faz, aqui se paga!

canteiro de Kant - Dante Felgueiras


toda rosa sempre será vermelha.

na imaginação da criança.
no passeio com a namorada.

em todos os livros de colorir,
pintados com caixas inteiras de lápis.

há quem afirme gostar das brancas.
gostam mesmo é de gardênia.

antes de branca, a rosa branca é rosa.
ululante vermelha.

jamais haverá banana que não seja amarela.



(poema baseado na estrutura de "Sabiá com Trevas" de Manoel de Barros)

expectação - Dante Felgueiras


B E R R O
de metal
fora (da casa)
foi a vida que parou
junto com o automóvel?

B E R R O
de músculo
dentro (do corpo)
tu-dum, tu-dum, tu-dum
tu-dutu-dutu-dutu-du
tututututututututututu

vermelho grená
do carro da filha
molho de chaves
suor
fechadura
soluço
porta aberta

abre o coração
que lá vem ela
será que vem?
oba lá vem ela
outro carro grená
abraço
tututututututututututu
tu-dutu-dutu-dutu-du
tu-dum, tu-dum, tu-dum


(um poema baseado em sonho de Carlos Andrade)

de rogado - Dante Felgueiras



banheiro arquitetado
sem parede nem teto.

me banho neste prisma
estranho, sem fundo.
                                   nu,
como vim ao mundo.

caixa vítrea,
embaça o vapor.
do outro lado,
um corpo curvo, vago,
turvo, sussurra:
    amor...      amor...

duas sílabas bastam.
sem acordo, acordo.


(um poema baseado em sonho próprio)

14 de novembro de 2012

Em demasia - Rosália Cipriano

Muito de tudo
é tão pouco de nada

que pode até (des)ter
 
e ter.

isso (se)querer
 
e quer?

Fardo da ignorância - Rosália Cipriano

Falta de acúmulo
mútuo

Ausência de base
crase

Carência de alicerce
imerge

Omissão de premissa
pesa

Vinte e nove, outra vez - Rosália Cipriano



No hotel chegou sem se importar
Enquanto a moça permanecia
Ensaiando não lhe observar
Atrás do caixa, envaidecia

Ele sobe para se refrescar
Enquanto a moça o perseguia
Procurando as certezas comprovar
Na ponta dos pés a porta abria.

Tomada pela fragrância de sândalo
Busca pistas para poder justificar
O receio de provocar escândalo

Um barulho corta a atenção
E uma imagem faz despertar
Daqueles anseios, coração.





- Soneto a partir do sonho

Haicais - Rosália Cipriano


A chuva que brota
Do pesar daquelas nuvens
Alagando o rio

Quebra uma onda
Na areia pura branca
Da praia só

Dias de verão
Exala o perfume
O cheiro da noite

No meio deles
Aço, couro e fivela
Flor cinza, amarela

Buquê de lírio
de todas as cores
é primavera, amores

Pele áspera
ruga antiga
já passou, a vida

A árvore balança
para anunciar a brisa
que vem e dança

12 de novembro de 2012

Sentidos concêntricos - Anna Amorim


do centro emana mares
deixo-me
de certo,
tua carícia, seta
aponta-me
vertigens.

11 de novembro de 2012

haicais - Dante Felgueiras


aves

sombra voa no chão,
na cabeça, passarinho,
no céu, gavião


copyright

uma folha em branco,
lauda que ninguém assina.
a não ser a sina


voyeur

toma sol na laje
completa desconhecida
tela google maps


arqueologia

a bola de capo-
tão bonita bem guardada
no baú do avô


céu sol lá

bossa natural
cada gota chovida é
nota no quintal

A língua de Manuel


flâmula ligeira
na boca do tamanduá
bandeira

(Celso Ribeiro)

Ruína

Carlos Augusto Andrade

Na senda,
encontros sutis
desvelam
estado d´alma.

Ruína da mente,
mente pra gente,
dissimula a verdade
de um ser enquadrado,
preso,
encurralado.
Do homem circular,
que vai e volta
no mesmo estado.

Em ruína, sem estar quebrado.


Obs: Escrito após discussões sobre o filme Querô.

Reflexos

Carlos Augusto Andrade

Em Querô,
quero espelho
claro no entanto,
vejo translúcida a imagem
de quem quero,
mas não sou.

Refletida no espelho imagem
real não aparece,
prefiro miragem inversa,
reversa que se vê
transversa,
prostituída.

Espelho
imagem,
megami.

Quero diferente,
imagem transcendente,
aquela qual sou eu.
Refletido,
sou quem quero,
não quem sou.

Obs: a partir de uma discussão do filme Querô.

Moderno Versificado

Carlos Augusto Andrade


Pega e
trasnforma
a forma.

Reforma
a norma.

Torce
muda,
distorce
o texto
a lida,
o verso.

Na linha,
sem métrica,
nem beira,
moderna poesia
brasileira.

Obs: lampejos na Oficina de Poesia com Edson Cruz

Conversas

Carlos Augusto Andrade


Caverna-dentro
aquecida por luzes turvas
e amigos plenos.

Caverna-bar
de encontros
litigantes,
diferentes,
beges-marrons,
alucinantes.

Caverna-dardos
Entre sombras e velas
jogo, show.
De lampejo,
musa
cortejada,
esquecida pelo jogo
de dardos,
pelo fogo
das sombras.

Caverna-fora
sonho platônico-dantesco
em verso, inverso,
inferno controverso.

Obs: Poema desenvolvido a partir do sonho do colega Dante.

Ilusão

Carlos Augusto Andrade


Quando menino quis ser gente grande.

As primeiras palavras proferidas
traçaram a troça da vida.

Da fantasia esperada, não correspondida,
ao mundo cão que assola a imaginação.

Sem eira, nem beira, estranha percepção,
menino-homem cresce, não aparece.

Nas sombras da vida, homem-menino,
Sem destino certo, sem ninguém por perto.

Quando gente grande quis ser menino.


Obs: Exercício a partir do poema Sabia com Trevas

9 de novembro de 2012

Capturar versos (Versão II)



HaiKai de Anna Amorim trabalhado como poema concreto por Celso Ribeiro

Capturar versos - Anna Amorim



fome de aranha
poética armadilha
tecida na teia.

ANEL DE AMANTE




solitário


no fundo
jamais me terias oh bela!
como amásia apenas, talvez

feito pedra
de anel
estarei





não só como tu!
como outras
lapidadas


a meu bel



(Celso Ribeiro)

SENSAÇÕES FANTASMAS DE VIDA AMPUTADA



Em tempos idos

sou corpore
mens
sou sana
in sano

sou sapiens
vitae
sou animus
spiritu

nestes, presentes

fui pó
retrato
fui lenda
fogo-fátuo

fui canção
abstrato
fui boato
quimera

em outros, idos
apenas sou
o que fui
o que era

nestes, presentes
apenas fui
o que sou
o que o é

da vida
restou o só apenas
sinto o que não sou
o que não mais serei.


(Celso Ribeiro)

desmanche - Dante Felgueiras



caderno antigo
boneco raso
deve ser troça
não veste nem trapo

melhor apagá-lo
traço por traço
pernas
tronco
braços

vai-se anônimo
até se tornar
impróprio
rastro
.


(poema escrito a partir do substantivo "desmanche")

Elegia - Anna Amorim


Necessidade de chuva
chorar tempestades.
No teu colo
re-
nascer.