28 de novembro de 2012
23 de novembro de 2012
Kairós - Anna Amorim
Existem corpos presentes,
almas ausentes
Ânsia e medo de encontros.
Corpo a perecer no tempo
desvaneceres d´alma.
Minutos-hora
Contados, acumulados, presos
no relógio.
Números nomeados.
Tentativa vã de dominar.
O que não existe, lento nos
desconstrói.
27/10/2012
Marcadores:
Anna Amorim
16 de novembro de 2012
só - Dante Felgueiras
bicho sem dono,
absorto num sono
de asfalto,
largado no mundo
cão
sonha
sonho de bicho:
tomba, vira, re-
vira a lata
do lixo
desperto, morde,
mas não ladra.
não pensa
que é gente.
só
sente
(poema para o exercício "Bestiário")
Marcadores:
Dante Felgueiras
Soneto Laico - Dante Felgueiras
Na quase Consolação, fim da Augusta,
Mulher da vida, que vive sem medo,
Para quem todo engano não é ledo,
O desengano é a primeira busca.
Moça cultiva coragem robusta,
Labuta até tarde, desperta cedo,
De toda família mantém segredo,
Sozinha percebe o quanto lhe custa.
Certa noite chega um homem de carro.
De frente pra igreja, era a maior tara.
Recebe o que pede, mas tira sarro:
- Querida, pagar aqui atrai praga.
Ela respira, ciente de quão caro,
E diz: - Se aqui se faz, aqui se paga!
Marcadores:
Dante Felgueiras
canteiro de Kant - Dante Felgueiras
toda rosa sempre será vermelha.
na imaginação da criança.
no passeio com a namorada.
em todos os livros de colorir,
pintados com caixas inteiras de lápis.
há quem afirme gostar das brancas.
gostam mesmo é de gardênia.
antes de
branca, a rosa branca é rosa.
ululante vermelha.
jamais haverá
banana que não seja amarela.
(poema baseado na estrutura de "Sabiá com Trevas" de Manoel de Barros)
Marcadores:
Dante Felgueiras
expectação - Dante Felgueiras
B E R R O
de metal
fora (da casa)
foi a vida que parou
junto com o automóvel?
B E R R O
de músculo
dentro (do corpo)
tu-dum, tu-dum, tu-dum
tu-dutu-dutu-dutu-du
tututututututututututu
vermelho grená
do carro da filha
molho de chaves
suor
fechadura
soluço
porta aberta
abre o coração
que lá vem ela
será que vem?
oba lá vem ela
outro carro grená
abraço
tututututututututututu
tu-dutu-dutu-dutu-du
tu-dum, tu-dum, tu-dum
(um poema baseado em sonho de Carlos Andrade)
Marcadores:
Dante Felgueiras
de rogado - Dante Felgueiras
banheiro arquitetado
sem parede nem teto.
me banho neste prisma
estranho, sem fundo.
nu,
como vim ao mundo.
caixa vítrea,
embaça o vapor.
do outro lado,
um corpo curvo, vago,
turvo, sussurra:
amor... amor...
duas sílabas bastam.
sem acordo, acordo.
(um poema baseado em sonho próprio)
Marcadores:
Dante Felgueiras
14 de novembro de 2012
Em demasia - Rosália Cipriano
Muito de tudo
é tão pouco de nada
que pode até (des)ter
e ter.
isso (se)querer
e quer?
é tão pouco de nada
que pode até (des)ter
e ter.
isso (se)querer
e quer?
Marcadores:
Rosália Cipriano
Fardo da ignorância - Rosália Cipriano
Falta de acúmulo
mútuo
Ausência de base
crase
Carência de alicerce
imerge
Omissão de premissa
pesa
mútuo
Ausência de base
crase
Carência de alicerce
imerge
Omissão de premissa
pesa
Marcadores:
Rosália Cipriano
Vinte e nove, outra vez - Rosália Cipriano
No hotel chegou sem se importar
Enquanto a moça permanecia
Ensaiando não lhe observar
Atrás do caixa, envaidecia
Ele sobe para se refrescar
Enquanto a moça o perseguia
Procurando as certezas comprovar
Na ponta dos pés a porta abria.
Tomada pela fragrância de sândalo
Busca pistas para poder justificar
O receio de provocar escândalo
Enquanto a moça o perseguia
Procurando as certezas comprovar
Na ponta dos pés a porta abria.
Tomada pela fragrância de sândalo
Busca pistas para poder justificar
O receio de provocar escândalo
E uma imagem faz despertar
Daqueles anseios, coração.
- Soneto a partir do sonho
Marcadores:
Rosália Cipriano
Haicais - Rosália Cipriano
A chuva que brota
Do pesar daquelas nuvens
Alagando o rio
Do pesar daquelas nuvens
Alagando o rio
Quebra uma onda
Na areia pura branca
Da praia só
Na areia pura branca
Da praia só
Dias
de verão
Exala o perfume
O cheiro da noite
Exala o perfume
O cheiro da noite
No meio deles
Aço, couro e fivela
Flor cinza, amarela
Aço, couro e fivela
Flor cinza, amarela
Buquê de lírio
de todas as cores
é primavera, amores
de todas as cores
é primavera, amores
Pele áspera
ruga antiga
já passou, a vida
A árvore balança
para anunciar a brisa
que vem e dança
ruga antiga
já passou, a vida
A árvore balança
para anunciar a brisa
que vem e dança
Marcadores:
Haicai,
Rosália Cipriano
12 de novembro de 2012
Sentidos concêntricos - Anna Amorim
do centro emana mares
deixo-me
de certo,
tua carícia, seta
aponta-me
vertigens.
Marcadores:
Anna Amorim
11 de novembro de 2012
haicais - Dante Felgueiras
aves
sombra voa no chão,
na cabeça, passarinho,
no céu, gavião
na cabeça, passarinho,
no céu, gavião
copyright
uma folha em branco,
lauda que ninguém assina.
a não ser a sina
voyeur
toma sol na laje
completa desconhecida
tela google maps
arqueologia
a bola de capo-
tão bonita bem guardada
no baú do avô
céu sol lá
bossa natural
cada gota chovida é
nota no quintal
Marcadores:
Dante Felgueiras
Ruína
Carlos
Augusto Andrade
Na senda,
encontros sutis
desvelam
estado d´alma.
Ruína da mente,
mente pra gente,
dissimula a verdade
de um ser enquadrado,
preso,
encurralado.
Do homem circular,
que vai e volta
no mesmo estado.
Obs: Escrito após discussões sobre o filme Querô.
Reflexos
Carlos
Augusto Andrade
Em Querô,
quero
espelho
claro no
entanto,
vejo
translúcida a imagem
de quem
quero,
mas não
sou.
Refletida
no espelho imagem
real não
aparece,
prefiro
miragem inversa,
reversa
que se vê
transversa,
prostituída.
Espelho
imagem,
megami.
Quero
diferente,
imagem
transcendente,
aquela
qual sou eu.
Refletido,
sou quem
quero,
não quem sou.
Obs: a partir de uma discussão do filme Querô.
Conversas
Carlos
Augusto Andrade
Caverna-dentro
aquecida
por luzes turvas
e amigos
plenos.
Caverna-bar
de
encontros
litigantes,
diferentes,
beges-marrons,
alucinantes.
Caverna-dardos
Entre
sombras e velas
jogo,
show.
De
lampejo,
musa
cortejada,
esquecida
pelo jogo
de
dardos,
pelo fogo
das sombras.
Caverna-fora
sonho
platônico-dantesco
em verso,
inverso,
inferno controverso.Obs: Poema desenvolvido a partir do sonho do colega Dante.
Ilusão
Carlos
Augusto Andrade
Quando menino quis ser gente grande.
As primeiras palavras proferidas
traçaram a troça da vida.
Da fantasia esperada, não correspondida,
ao mundo cão que assola a imaginação.
Sem eira, nem beira, estranha percepção,
menino-homem cresce, não aparece.
Nas sombras da vida, homem-menino,
Sem destino certo, sem ninguém por perto.
Obs: Exercício a partir do poema Sabia com Trevas
9 de novembro de 2012
ANEL DE AMANTE
solitário
no fundo
jamais me terias oh bela!
como amásia apenas, talvez
feito pedra
de anel
estarei
só
não só como tu!
como outras
lapidadas
a meu bel
(Celso Ribeiro)
SENSAÇÕES FANTASMAS DE VIDA AMPUTADA
Em tempos idos
sou corpore
mens
sou sana
in sano
sou sapiens
vitae
sou animus
spiritu
nestes, presentes
fui pó
retrato
fui lenda
fogo-fátuo
fui canção
abstrato
fui boato
quimera
em outros, idos
apenas sou
o que fui
o que era
nestes, presentes
apenas fui
o que sou
o que o é
da vida
restou o só apenas
sinto o que não sou
o que não mais serei.
(Celso Ribeiro)
desmanche - Dante Felgueiras
caderno antigo
boneco raso
deve ser troça
não veste nem trapo
melhor apagá-lo
traço por traço
pernas
tronco
braços
vai-se anônimo
até se tornar
impróprio
rastro
.
(poema escrito a partir do substantivo "desmanche")
(poema escrito a partir do substantivo "desmanche")
Marcadores:
Dante Felgueiras
8 de novembro de 2012
Belas Tietas
(vai além de motes triviais que eclodem de decotes)
no velho casario de calçada estreita
miro-a na janela
a moça da novena
filha de Maria
chama acesa vela
sopra-a quem desvia
nega o que diz, mente
a tal que se diz pia
santa qual rameira
é Tieta bela, da que se disputa
gume cego é corte
pra quem diz afia
como a mãe viúva
da que foi donzela
é Tieta puta
da que se revela
só se dá novelo
a quem se diz fia
a que se diz fruta
como a da janela
(Celso Ribeiro)
Hom'aranha (bestiário)
teias, laços
profusão de cores
emaranhei-me
à sanha da fera
sei-me ceia
sabe-se musa
úmida
aranha
tão bela
feia
(Celso Ribeiro)
Gestões
arrisquei-lhe
logomarca
sacou-me logotipo
confessei-lhe
carência
advertiu-me prazo
afaguei-lhe
liberal
sugeriu-me tabela
envolvi-lhe
bruto
diluiu-me líquido
investi-lhe
tributário
promoveu-me sênior
versei-lhe
excell
ressuscitou-me Terra
publiquei-lhe
outdoor
faturou-me royalties
posicionei-lhe
xeque
xingou-me nominal
jurei-lhe
juro
concedeu-me mora
presenteei-lhe
bolsa
cambiou-me alta
roubei-lhe
selo
intimou-me precatória
vesti-lhe
renda
encantou-me fixa
gesticulei-lhe
libras
redigiu-me com trato
desnudei-lhe
cara
empossou-me coroa
contei-lhe
Normas
confessou-me Dow Jones
julguei-lhe
no vermelho
alertou-me commodities
estendi-lhe
mão-de-obra
negou-me mais-valia
cantei-lhe
protocolo
liberou-me aduaneira
apresentei-lhe
business
revelou-me atriz
beijei-lhe
metas
amou-me gestão
sou-lhe
diretor
és-me diretriz
(Celso Ribeiro)
logomarca
sacou-me logotipo
confessei-lhe
carência
advertiu-me prazo
afaguei-lhe
liberal
sugeriu-me tabela
envolvi-lhe
bruto
diluiu-me líquido
investi-lhe
tributário
promoveu-me sênior
versei-lhe
excell
ressuscitou-me Terra
publiquei-lhe
outdoor
faturou-me royalties
posicionei-lhe
xeque
xingou-me nominal
jurei-lhe
juro
concedeu-me mora
presenteei-lhe
bolsa
cambiou-me alta
roubei-lhe
selo
intimou-me precatória
vesti-lhe
renda
encantou-me fixa
gesticulei-lhe
libras
redigiu-me com trato
desnudei-lhe
cara
empossou-me coroa
contei-lhe
Normas
confessou-me Dow Jones
julguei-lhe
no vermelho
alertou-me commodities
estendi-lhe
mão-de-obra
negou-me mais-valia
cantei-lhe
protocolo
liberou-me aduaneira
apresentei-lhe
business
revelou-me atriz
beijei-lhe
metas
amou-me gestão
sou-lhe
diretor
és-me diretriz
(Celso Ribeiro)
Análise e interpretação
BARRA
[do livro “Cais” de Alberto Martins, Ed. 34]
Por
aqui ainda se morre
de simples destempero
de simples destempero
basta
ignorar as lajes
o vento
o vento
basta
romper a barra
em hora estreita:
em hora estreita:
vais
pescar em águas turvas
ao som de nenhuma sereia.
ao som de nenhuma sereia.
Assinar:
Postagens (Atom)