5 de janeiro de 2009

NÃO (1990)

meu amor dor
não é poesia
amar viver morrer
ainda não é poesia

escrever pouco ou muito
calar falar
ainda não é poesia

humano autêntico sincero
mas ainda não é poesia

transpira todo o dia
mas ainda não é poesia

ali onde há poesia
ainda não é poesia

desafia
mas ainda não é poesia

rimas
ainda não é poesia

é quase poesia mas
ainda não é poesia


[Trucidei a forma (está no livro NÃO POEMAS,de 2003, Perspectiva) deste poema de Augusto de Campos, pois vejo nele a explicitação da poética buscada por Augusto e que nos diz muito. Parece-se com o poema (e a poética) de Drummond, "Procura da poesia". Postado por Edson Cruz]

3 comentários:

  1. É!

    Ser quase poesia, é uma busca do Ser.

    Além de estar, ser, é o trabalho da palavra, ainda não poesia, em busca de seu ponto.
    Um tempaço...

    Um abraço, Edson. Gracias pela reflexão.

    Carmen Silvia Presotto

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  2. Sim, lembrei direto do Drummond.
    Obrigada, também.
    Carmen: gosto muito dos teus comentários, são um atrativo a mais neste blog. Nem sempre consigo acompanhar/comentar tudo, mas tô aqui num arregalado-não-piscar (qual foi o poeta que disse isso, mesmo?)
    abraços, beijos, um 2009 dez mil procêis,

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  3. Aliás, como comentei com vocês, ouvir música (popular e impopular) é fundamental para o fazer poesia (a despeito do que dizia João Cabral). Confiram essa aula do mestre acima citado: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=3732

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