26 de dezembro de 2008

astrologia

não são os astros
que são mudos
nós é que somos
surdos, cegos
verdadeiros absurdos

(Postado por Edson Cruz)

24 de dezembro de 2008

Dois e dois: quatro

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena.
Mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena

[Poema de Ferreira Gullar, postado por Edson Cruz]

22 de dezembro de 2008

Risível Cegueira

por Carmen Silvia Presotto

y qué muere si uno no se pasa
Alejandra Pizarnik

Se um não vê...

dores
rasgam carne
contraturam juntas
abarco péssimas viagens

pesadelo
dividido meu ser

Se busco valores
temo
:
o simples viver


Se um não vê...

conflitos
criam personagens
vagam viveres

Se um me vê
mitos
em seres
pirilampejam morreres
e eu não vago a lume
caba cegra, signo sigo...



A todas mãos do Pois é, Poesia... Feliz Natal e um ano vidraguado de novidades.

Os Justos

Um homem que cultiva seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sur jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acaricia um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão salvando o mundo.

(Poema de Jorge Luis Borges, que remete ao episódio do Gênesis sobre a destruição de Sodoma)
postado por Edson Cruz

Bom a Bessa

Gente, sorry o trocadilho, não resisti. Nem a ele, nem aos poemas do Reynaldo Bessa. E a resenha do Fabrício Carpinejar, como sempre, é mais poesia. Leiam mais o Bessa:



seu corpo

é o único argumento

que não sei

refutar



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seus olhos

são meu livro de cabeceira

21 de dezembro de 2008

Uma carta ao amor

por Carmen Silvia Presotto

Querido Poeta,poeTAS, para seguirmos conVersando,uma carta e um bom amanhecer!

Um zunido de amor me chega junto a um vidro de vozes. Bebo da taça o coquetel. De cada som cai uma gota, uma nota que me compõe. Às vezes soa familiar, noutras tão estranha, distante, como se o próprio Eco me assobiasse desde o pulmão do mundo.
Giro, vibro ao momento em que meu olhar percebe as páginas em branco, sem memória, sem sinais, sigo livre às partituras.

Nua do tempo me conecto a um amanhecer de internautas espaciais, onde mentes instântaneas de multiplicidade me tocam. E, quando, nem sei mais quem sou, sei que um nada se esvaiu…
Tudo era um medo, um vazio de espanto e já que entre paredes o impossível se refaz gigante de um sopro surdo, silencio à voz do amor.

Banho-me neste som, nesssas rimas grito, quente e reflorescida de verdes, para colher a rosa com hálito de mel e perceber a flauta mágica que liberará meu pranto… E se ao dobrar a esquina, um mouse qualquer se fizer bomba, direi a ele que sei a dor do espinho, por isso exalarei um ritmo novo, para que este também se perfure em mais cantos…Palavras que me vistam, sem este jogo de cartas embaladas por uma Pátria Insana.

Música maestros, sinfonias e não bombas!

Música e sorverei a água de minha Terra, para me despedir de meus desenganos…
Música e darei adeus às feridas, dançando abrirei portas em mais vias para seguir passagem.
Música e lhes direi dos bosques, das fábulas. Da poesia que necessita de duendes, de fadas, dos rios imaginários, para mergulhar em mais vôos.
Música e as vogais seguirão a velha utopia, aninhadas em sonoros cubos de linha,vítreas seguirão o vento transparente a mais frases de idéias sem gavetas.
Música e as divisões que resistem seguirão referência da mente, jamais estação espacial de dados, de Oriente e Ocidente por ocas rodovias de amor,
Música e a Poesia seguirá a linguagem, um canal atrás do sol, abraçando o impossível em ecologias de memórias para muitos renascimentos…

No entanto, caros amigos, confesso que,às vezes, desejo uma simples homeopatia que destrame os espelhos, porque se há momentos em que temo afogar as imagens da criança que vive de amor, também há momentos para ela despertar.

Feliz dia do amor e a todos bom final de semana e Vidráguas!

20 de dezembro de 2008

miragem



intrépido pintor
persigo a sombra
de sua visagem

busco a fêmea
magistral
sinuosas curvas
do tempo

perco-me a ondular
uma vez mais
miragem
a sussurrar
no vento ancestral
amor, amor
amor.

[Poema de meu novo livro, Sambaqui. Edson Cruz]

19 de dezembro de 2008

Outros barulhos

O músico e compositor Reynaldo Bessa lançou ontem, aqui em São Paulo, seu primeiro livro de poesia: Outros barulhos. O livro teve apresentação dos poetas Fabrício Carpinejar e Wilmar Silva. Estou gostando do livro. Vejam um exemplo e deixem seus comentários:

entre a caneta e o
guardanapo; um dilema
eu não sabia se tentava ou se
ia ao cinema
não fiz uma coisa nem outra
assoei o nariz com o quase-poema
ah! chega!
com ele ou sem ele
nada muda
é tudo cena

O livro é bilíngue (português/inglês). Vejam mais exemplos clicando aqui.

18 de dezembro de 2008

Ainda o tema

Em segredo deseja
os encantos
da avó da casa em frente
sabendo os olhares da neta
suspirante pelos cantos
- poeta

[Laís Chaffe]

Tema poético II

Poesia:
desejo salivando
em frente à mesa
vazia

[Laís Chaffe]

Tema poético

É poeta

se bronzeia
sob roto guarda-sol
em noite
de temporal

[Laís Chaffe]

Poesia

cisne esculpido em gelo
numa noite fria
- onda de calor
na previsão
da meteorologia

[Laís Chaffe]

Tema de Casa

O POETA
por Carmen Silvia Presotto

O Poeta é um reflexo
delta em nu implícito
leito aberto a conVersas sob a crua palavra...

17 de dezembro de 2008

Ferreira Gullar

.

Nossa companheira Carmen Silvia, do Vidráguas, entrevistou o poeta Ferreira Gullar. Confiram o restante em seu blog Ficou muito boa.

16 de dezembro de 2008

Entrevistando Poetas

O poeta paranaense, morador de São Paulo, Ademir Assunção entrevistou vários poetas para o site do Itaú Cultural, entre eles: André Vallias, Armando Freitas Filho, Claudia Roquete Pinto, Paulo Henriques Britto, Paulo Scott, Alice Ruiz, Horácio Costa, Ronald Polito, Carlos Ávila, Afonso Ávila, Sebastião Nunes, Geraldo Carneiro, Glauco Mattoso, Arnaldo Antunes e Micheliny Verunschk.

Os depoimentos, na própria voz dos poetas, já estão no site do Itaú Cultural. Podem ser ouvidos clicando aqui.

Paulo Leminski

15 de dezembro de 2008

Poesia via Leminski

POESIA: “words set to music”(Dante via Pound), “uma viagem ao desconhecido” (Maiakóvski), “cernes e medulas” (Ezra Pound), “a fala do infalável” (Goethe), “linguagem voltada para a sua própria materialidade” (Jakobson), “permanente hesitação entre som e sentido” (Paul Valery), “fundação do ser mediante a palavra” (Heidegger), “a religião original da humanidade” (Novalis), “as melhores palavras na melhor ordem” (Coleridge), “emoção relembrada na tranqüilidade” (Wordsworth), “ciência e paixão” (Alfred de Vigny), “se faz com palavras, não com idéias” (Mallarmé), “música que se faz com idéias” (Ricardo Reis/Fernando Pessoa), “um fingimento deveras” (Fernando Pessoa), “criticismo of life” (Mathew Arnold), “palavra-coisa” (Sartre), “linguagem em estado de pureza selvagem” (Octavio Paz), “poetry is to inspire” (Bob Dylan), “design de linguagem” (Décio Pignatari), “lo impossible hecho possible” (Garcia Lorca), “aquilo que se perde na tradução (Robert Frost), “a liberdade da minha linguagem” (Paulo Leminski)...

[Compilado por Paulo Leminski]

Poema

A poesia está guardada nas palavras – é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

[Manoel de Barros]